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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26647: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (37): A Praça de Elvas onde à noite eram fechadas as portas da cidade! (Fernando Ribeiro)









Elvas > 2 de março de 2014 >  Confesso que é claustrofóbica... mas fotogénica... Não gostaria de lá viver...  Tinha 30 mil habitantes em 1950, 22,2 mil em 1970, 20,7 mil em 2021.

Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e as suas Fortificações": um  conjunto histórico-cultural classificado como Património Mundial da UNESCO em 2012,  

O sítio classificado foi fortificado de forma extensiva entre os séculos XVII e XIX, e representa o maior sistema de fortificações abaluartadas do mundo. No interior das muralhas, a cidade inclui grandes casernas e outras construções militares bem como igrejas e mosteiros. Enquanto Elvas conserva vestígios que remontam ao século X, as suas fortificações datam da época da restauração da independência de Portugal em 1640. Várias das fortificações, desenhadas pelo padre jesuíta neerlandês João Piscásio, representam o mais bem conservado exemplo de fortificações do mundo com origem na escola militar holandesa.

O sítio classificado compreende: Centro histórico | Aqueduto da Amoreira, construído para permitir resistir a longos cercos |  Forte de Nossa Senhora da Graça | Forte de Santa Luzia | Fortim de São Mamede | Fortim de São Pedro | Fortim de São Domingos   (Fonte: Adapt. de  Wikipedia)



Fotos (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 /
BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018,
com o nº 780, tem 34 referências no nosso blogue.
Engenheiro, natural do Porto, é o administrador  
do blogue "A Matéria do Tempo", que mantém ativo
 desde janeiro de 2006 até hoje,
um caso notável de longevidade na Net.


1. Comentário de Fernando Ribeiro ao poste P26640 (*): 


Entre outubro e dezembro de 1971, dei uma recruta em Elvas, mais concretamente no Batalhão de Caçadores 8. 

Sobre a minha experiência pessoal não falarei, porque não quero passar por mentiroso.

A cidade de Elvas tinha naquele tempo mais militares do que civis. Era a chamada Praça de Elvas, que incluía o comando da Praça de Elvas, o Batalhão de Caçadores 8, o Regimento de Lanceiros 1, o CICA não-sei-quantos (não me lembro do número do CICA), o Forte da Graça (que embora já não estivesse dentro do perímetro da cidade, também fazia parte da Praça de Elvas) e até um hospital, aliás pequeno, que era o Hospital Militar da Praça de Elvas. 

Uma curiosidade com sabor medieval: à noite, eram fechadas as portas da cidade! A partir do momento em que as portas fossem fechadas, só se podia entrar e sair do centro histórico muralhado com autorização especial! Julgo que a autorização era muito fácil de obter por qualquer civil, mas ele tinha que a possuir...

O BC8 ficava num antigo convento, que tinha sido o Convento de S. Paulo, situado no ponto mais alto da cidade de Elvas, isto é, na vizinhança da capela de Nossa Senhora da Conceição. Na minha qualidade de aspirante, eu dormia num quarto que era uma antiga cela de frades, que dava diretamente para o claustro do convento. O claustro era muito aprazível e muito fresco (no inverno até era fresco demais), como são todos os claustros. Atualmente, funciona um hotel nas antigas instalações do BC8.

A recruta não era dada no antigo convento, mas sim num edifício histórico situado em frente, do outro lado da rua. Era neste edifício que ficavam as instalações da companhia de instrução e as casernas dos recrutas. A instrução era quase toda dada numa espécie de parada que havia atrás do edifício e se debruçava sobre a muralha da cidade. A companhia de instrução, portanto, ficava claramente separada do resto do BC8. Neste edifício histórico está agora um estabelecimento de ensino, pertencente ao Instituto Politécnico de Portalegre.

As condições de instrução no BC8 eram muito deficientes. A instrução de tática, então, tinha que ser dada nuns terrenos vizinhos do magnífico Aqueduto da Amoreira, enquanto os carros passavam ali mesmo ao lado, a caminho de Espanha ou de Campo Maior. Aquilo não tinha condições absolutamente nenhumas.

A roubalheira que havia no BC8 era escandalosa e como sempre feita à custa dos soldados. Fiz duas ou três vezes serviço de oficial de prevenção ao sábado, e observei, com estes que a terra há de comer, como eram desviados géneros alimentícios para as malas de carros que faziam bicha junto à porta das traseiras do edifício do convento, numa rua que desce para o Jardim das Laranjeiras.

 Não era por acaso que a comida no BC8 era péssima. A bela carne e o belo peixe eram desviados, enquanto os soldados roíam os ossos e as espinhas de bacalhau, que lhes eram servidos com manga-de-capote. E não conto mais nada, porque não quero ser tomado como mentiroso. (**)

2025 M04 2, Wed 18:24:05 GMT+1

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 2 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26640: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (35): Elvas... Oh!, Elvas, oh!, Elvas, Badajoz à vista! (Mário Fitas)

(**) Último poste da série > 3 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26646: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (36): Lamego, Amadora, Oeiras, Lisboa ... e depois Cufar ! (Mário Fitas)


segunda-feira, 31 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26631: Facebook...ando (71): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - Parte II








Fotos nºs 11, 12, 13, 14 > O 1º ministro da República Democrática de Timor-Leste, Kay Rala Xanana Gusmão faz uma visita-surpresa â Escola de São Franscisco de Assis, em Boebau / Manati, município de Liquiçá, na festa da celebração do 7º aniversário. (No texto abaixo há um erro, dpo repórter,  na localização: a escola não fica na aldeia de Hatumasi, mas sim em  Boebau, Manati).


Imagens da Média - GPM / RDTL (República Democrática de Timor-Leste, com a devida vénia)... Fonte: Página do Facebook do 1º Ministro da RDTL, Kay Rala Xanana Gusmão




1. Com as preciosas"dicas" do nosso camarada Fernando Ribeiro, mais a ajuda do tradutor do Google e do Google Gemini IA, aqui vai a tradução possível, com correções nossas, da notícia da visita do 1º ministro de Timor-Leste, no passado sábado, dia 22, à Escola de São Francisco de Assis em Manati / Bobeau, Liquiçá, por ocasião do seu 7º aniversário. A notícia, em tétum, é reproduzida da página do Facebook do 1º Ministro da RDLT, Ray Kay Rala Xanana Gusmão.

O original em tétum vai em itáluco, e alinhado à esquerda. A tradução em português vai alinhado à direita.


Eskola São Francisco de Assis eziste tinan hitu, PM Xanana agradese
profesor nai'n-lima voluntáriu hanorin estudante

A Escola São Francisco de Assis existe há sete anos, o Primeiro Ministro Xanana vem agradecer a cinco professores que se voluntariam para ensinar os alunos

LIQUIÇÁ, 22 Marsu 2025

Primeiru-Ministru (PM), Kay Rala Xanana Gusmão agradese ba profesór foin-sa’e Timor-oan na’in lima (5) kompostu hosi feto tolu no mane rua ne’ebé ho de’it diploma sekundáriu voluntáriu tinan hitu ona fahe matenek ba estudante sira iha eskola São Francisco de Assis, Liquiça.


LIQUIÇÁ, 22 de março de 2025

O Primeiro-Ministro (PM), Kay Rala Xanana Gusmão,  agradeceu a cinco (5) jovens professores timorenses, três mulheres e dois homens, que, com apenas o diploma do ensino secundário, se voluntariam há sete anos para partilhar conhecimentos com os alunos da Escola de São Francisco de Assis, Liquiçá.


Apresiasaun ne’e Xefe Governu hato’o bainhira hala’o vizita supreza hodi partisipa selebrasaun aniversáriu Eskola São Francisco de Assis “PAZ E BEM” iha Aldeia Hatumasi, Suku Leotala, Postu Administrativu Liquiça, Munisípiu Liquiça, sábadu (22/03/2025).


Este agradecimento foi manifestado pelo Chefe do Governo  
durante uma visita surpresa que fez para participar na comemoração do aniversário 
da Escola São Francisco de Assis “PAZ E BEM” 
na aldeia de Hatumasi, suco de Leotala, posto administrativo de Liquiçá, município de Liquiçá, sábado, 22/03/2025.


Vizita supreza ne’e PM Xanana halo hafoin simu karta ne’ebé hakerek hosi Fundadór Eskola São Francisco de Assis, Rui Fernandes Manuel Chamusco dirije bá PM Xanana hodi relata prokupasaun ne’ebé estudante no inan-aman sira hasoru.


Esta visita surpresa foi feita pelo PM Xanana após receber uma carta escrita pelo Fundador da Escola São Francisco de Assis, Rui Fernandes Manuel Chamusco, dirigida ao chefe doo Governo para relatar as preocupações e dificuldades enfrentadas poro pais e alunos.

Eskola ne’e harii hosi Associação de Amigos Solidárioa com Timor Leste (ASTIL-Portugál), iha tinan 2019 ho sala aula tolu, haris-fatin ida, ne’ebé inaugura iha loron 10 fulan-Marsu hosi fundadór ASTIL, João Crisóstomo e Criança de Boebua, eskola ne’e harii ho intensaun ajuda estudante sira iha área rurál asesu ba edukasaun ho besik liután.


Esta escola foi construída pela Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste (ASTIL-Portugal), em 2019, com três salas de aula e uma casa de banho (e casa de professores,além de recinto murado), tendo sido inaugurada a 10 de março pelo fundador da ASTIL, João Crisóstomo, 
e por uma  criança de Boebau.
 A escola foi construída com a intenção de ajudar os estudantes das áreas rurais a acederem à educação de forma mais próxima.


“𝐇𝐚’𝐮 𝐦𝐚𝐢 𝐭𝐚𝐧𝐛𝐚 𝐢𝐦𝐢-𝐧𝐢𝐚 𝐞𝐬𝐤𝐨𝐥𝐚 𝐬𝐞𝐥𝐞𝐛𝐫𝐚 𝐭𝐢𝐧𝐚𝐧-𝐡𝐢𝐭𝐮, 𝐡𝐚’𝐮 𝐦𝐚𝐢 𝐚𝐭𝐮 𝐚𝐠𝐫𝐚𝐝𝐞𝐬𝐞 𝐛𝐚 𝐀𝐯ó 𝐑𝐮𝐢 𝐅𝐞𝐫𝐧𝐚𝐧𝐝𝐞𝐬 𝐌𝐚𝐧𝐮𝐞𝐥 𝐂𝐡𝐚𝐦u𝐬𝐜𝐨 𝐡𝐨 𝐧𝐢𝐚 𝐦𝐚𝐥𝐮𝐤 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐞’𝐞𝐛𝐞é 𝐡𝐨 𝐥𝐚𝐫𝐚𝐧 𝐛𝐨’𝐨𝐭, 𝐟𝐮𝐚𝐧 𝐛𝐨’𝐨𝐭 𝐡𝐨𝐝𝐢 𝐚𝐣𝐮𝐝𝐚 𝐦𝐨́𝐬 𝐠𝐨𝐯𝐞𝐫𝐧𝐮 𝐚𝐭𝐮 𝐡𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐞𝐝𝐮𝐤𝐚𝐬𝐚𝐮𝐧 𝐧𝐨 𝐩𝐫𝐞𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐢𝐭𝐚-𝐧𝐢𝐚 𝐨𝐚𝐧 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐢𝐚 𝐞𝐝𝐮𝐤𝐚𝐬𝐚𝐮𝐧. 𝐇𝐚’𝐮 𝐦ó𝐬 𝐡𝐚𝐤𝐚𝐫𝐚𝐤 𝐚𝐩𝐫𝐞𝐬𝐢𝐚 𝐦ó𝐬 𝐛𝐚 𝐏𝐚𝐢 𝐍𝐢𝐧𝐨 (𝐉𝐨ã𝐨 𝐝𝐞 𝐀𝐫𝐚ú𝐣𝐨) 𝐡𝐨 𝐩𝐫𝐨𝐟𝐞𝐬ór 𝐧𝐨 𝐩𝐫𝐨𝐟𝐞𝐬𝐨𝐫𝐚 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐥𝐚𝐫𝐚𝐧 𝐥𝐮𝐚𝐤 𝐡𝐨𝐝𝐢 𝐡𝐚𝐫𝐞𝐞 𝐛𝐚 𝐢𝐦𝐢-𝐨𝐚𝐧 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐢𝐚 𝐟𝐮𝐭𝐮𝐫𝐮. 𝐒𝐞́ 𝐡𝐨 𝐯𝐨𝐥𝐮𝐧𝐭á𝐫𝐢𝐮 𝐡𝐚𝐧𝐞𝐬𝐚𝐧 𝐧𝐞’𝐞 𝐦𝐚𝐤𝐚, 𝐩𝐫𝐨𝐟𝐞𝐬ó𝐫 𝐓𝐢𝐦𝐨𝐫-𝐨𝐚𝐧 𝐡𝐨𝐭𝐡𝐨𝐭𝐮 𝐛𝐞𝐥𝐞 𝐤𝐨𝐧𝐭𝐫𝐢𝐛𝐮𝐢 𝐚𝐭𝐮 𝐡𝐚𝐝𝐢’𝐚 𝐢𝐭𝐚-𝐧𝐢𝐚 𝐫𝐚𝐢𝐧,” PM Xanana hateten.

"Vim porque a vossa escola celebra sete anos, vim para agradecer ao Avô Rui Fernandes Manuel Chamusco e aos seus colegas que, com grande coração e generosidade, ajudam também o governo a melhorar a educação e a preparar a educação dos nossos filhos. 

"Quero também expressar a meu apreço ao Pai Nino (João de Araújo) e aos professores e professoras que, com grande dedicação, se preocupam com o futuro dos vossos filhos. É com voluntários como estes que todos os professores timorenses podem contribuir para melhorar a nossa nação," disse o Primeiro-Ministro Xanana.



Xefe Governu haktuir, Ministériu Edukasaun rezolve hela problema edukasaun no problema profesór sira. Maibé iha área rurál hanesan iha Aldeia Hatumasi profesór sira hanorin voluntáriu tinan hitu ona, nunka reklara sira-nia direitu más sakrifika a’an atu hanoin de’it oinsá mak fahe sira-nia matenek ba estudante sira nia futuru, no ida ne’e asaun fraternidade importante ida.

O Chefe do Governo referiu que o Ministério da Educação está a resolver os problemas desta escola, incluindo a situação dos professores. 
No entanto, em áreas rurais como a aldeia de Hatumasi, os professores têm ensinado voluntariamente há sete anos, nunca reivindicando os seus direitos, 
mas sacrificando-se para pensarem apenas em como partilhar o seu conhecimento para o futuro dos estudantes, e esta é uma ação de fraternidade importante.


PM Xanana ne’e apela ba estudante sira atu badinas estuda, mezmu sira iha área rurál hasoru dezafiu oin-oin.

O Primeiro-Ministro Xanana apelou aos estudantes para que estudem com afinco, mesmo que nas áreas rurais enfrentem muitos obstáculos e desafios.

Iha ámbitu ne’e, PM Xanana orienta estudante sira kanta múzika Hino Nasionál “Patri-Patria” no fahe livru ba estudante, dosi, bebida ba estudante inklui inan no aman sira.

Neste âmbito, o Primeiro-Ministro Xanana dirigiu os estudantes  que cantaram Hino Nacional “Pátria-Pátria” e distribuiu livros, doces e bebidas aos estudantes, incluindo aos pais.

Iha biban hanesan, Koordenadór Eskola São Francisco de Assis, João de Araújo Moniz Sobral agradese ba prezensa Xefe Governu ne’ebé hakat ona to’o sira-nia fatin hodi haree no rona rasik preokupasaun ne’ebé sira hasoru.


Na mesma ocasião, o coordenador da Escola São Francisco de Assis, João de Araújo Moniz Sobral, agradeceu a presença do Chefe do Governo, que se deslocou ao local para ver e ouvir pessoalmente as preocupações que enfrentam.


"𝐀𝐯ó X𝐚𝐧𝐚𝐧𝐚 𝐦𝐨𝐬𝐮 𝐦𝐚𝐢 𝐝𝐞𝐫𝐞𝐩𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐡𝐚𝐧𝐞𝐬𝐚𝐧 𝐧𝐞’𝐞 𝐬𝐮𝐩𝐫𝐞𝐳𝐚 𝐛𝐨’𝐨𝐭 𝐛𝐚 𝐢𝐭𝐚 𝐩𝐨𝐯𝐮 𝐧𝐨 𝐞𝐬𝐭𝐮𝐝𝐚𝐧𝐭𝐞 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐞’𝐞𝐛é 𝐬𝐮𝐬𝐚𝐫 𝐛𝐚 𝐛𝐮𝐚𝐭 𝐡𝐨𝐭𝐮-𝐡𝐨𝐭𝐮. 𝐀𝐦𝐢 𝐧𝐚’𝐢𝐧-𝐥𝐢𝐦𝐚 𝐡𝐨 𝐝𝐢𝐩𝐥𝐨𝐦𝐚 𝐬𝐞𝐤𝐮𝐧𝐝á𝐫𝐢𝐮 𝐡𝐨 𝐟𝐮𝐚𝐧 𝐧𝐞’𝐞𝐛é 𝐡𝐚𝐤𝐚𝐫𝐚𝐤 𝐚𝐭𝐮 𝐝𝐞𝐳𝐞𝐧𝐯𝐨𝐥𝐯𝐞 𝐫𝐚𝐢 𝐢𝐝𝐚 𝐧𝐞’𝐞 𝐥𝐢𝐥𝐢𝐮 𝐩𝐫𝐞𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐧𝐨 𝐞𝐝𝐮𝐤𝐚 𝐨𝐚𝐧 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐬𝐚𝐢 𝐦𝐚𝐭𝐞𝐧𝐞𝐤,” João de Araújo hateten.


"A visita surpresa do Avô Xanana foi uma grande surpresa para nós, o povo e os estudantes que enfrentam dificuldades em tudo. Nós, cinco diplomados do ensino secundário, com grande vontade de desenvolver esta terra, especialmente de preparar e educar as crianças para se tornarem sábias," disse João de Araújo.

Estudantes hamutuk na’in-102 kompostu hosi feto na’in-54 no mane 48 mak tuir aprendizajem iha tinan 2025. Estudante sira ne’e maioria hela ho distánsia dok, la’o de’it hosi ai-laran, hakur mota hodi ba to’o iha eskola.

Um total de 102 estudantes, dos quais 54 são raparigas e 48 são rapazes, frequentam o ensino em 2025. A maioria destes estudantes vive a longas distâncias, deslocando-se a pé por entre a mata e atravessando rios para chegar à escola.

Problema seluk ne’ebé eskola ne’e hasoru mak menus livru, kadeira no meja balun komesa aat, armari la iha atu tau livru no la iha biblioteka. Maski nune’e, eskola ne’e komesa harii ona moru haleu hodi proteje estudante sira bainhira tuir prosesu aprendizajem bele seguru no evita animal tama ba resintu eskola.

Outro problema que a escola enfrenta é a falta de livros, algumas cadeiras e mesas estão degradadas, não há armários para guardar os livros e não existe biblioteca.
Apesar disso, a escola já começou a construir um muro circundante para proteger os alunos durante o processo de aprendizagem, garantindo a sua segurança e evitando a entrada de animais no recinto escolar.

Prezensa PM Xanana nian apoia mós “𝐇𝐚’𝐮  Nia𝐓𝐚𝐬𝐢, 𝐇𝐚’𝐮  Nia𝐓𝐢𝐦𝐨𝐫” fahe fahe kamiza Fronteira Marrítima no apoia nesidade bázika ba estudante sira, atividade ne’e taka ho hasai foto hamutuk nu’udar rekordasaun.

A presença do Primeiro-Ministro Xanana também serviu  para divulgar o programa naciional  "Meu Mar, Meu Timor", distribuindo t-shirts do Gabinete das Fronteiras Terrestres e Marítimas e apoiando necessidades básicas dos estudantes. A atividade terminou com uma fotografia de grupo como recordação.

Akompaña PM Xanana iha eventu ne’e mak Administradór Postu Liquiça-Vila, Rogério dos Santos no reprezentante Komandu PNTL. (Média-GPM)

O Primeiro-Ministro Xanana foi acompanhado no evento pelo Administrador do Posto de Liquiçá-Vila, Rogério dos Santos, e por um representante do Comando da PNTL - Polícia Nacional de Timor-Leste  (Média-GPM)"

(Revisão / fixação de texto final, em português, para publicação deste poste: LG)


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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 30 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26630: Facebook...ando (70): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - Parte I

(**) "Ha'u-nia Tasi, Ha'u-nia Timor" é um livro fotográfico sobre Economia Azul, lançado pelo Primeiro-Ministro de Timor-Leste, Kay Rala Xanana Gusmão. O título significa,em portuguès, "O Meu Mar, O Meu Timor".. Produzido pelo Gabinete das Fronteiras Terrestres e Marítimas (GFTM), o livero foi lançado em Nova Iorque, no The Explorers Club, no dia 23 de setembro de 2024.


Vd. poste de 24 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26072: (In)citações (266): Será que é desta ?... Se Xanana Gusmão não vai à nossa Escola nas montanhas de Liquiçá, a nossa Escola vai ter com ele em... Nova Iorque (João Crisóstomo)

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26477: S(C)em Comentários (58): A "Primavera Marcelista" ?...é um mito: eu estava em Coimbra e e apanhei em pleno a crise académica de 1969 (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74)




Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 /
BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018,
com o nº 780, tem 34 referências no nosso blogue.
Engenheiro, natural do Porto, é o administror
que mantém ativo desde janeiro de 2006 até hoje.
Um caso notável de longevidade.


1. Comentário ao poste P26467 (*):

Lembro-me muito bem desta edição do Diário de Lisboa. Eu estava em Coimbra, a frequentar a Universidade, e o Diário de Lisboa tinha-se tornado o meu jornal diário. 

A notícia impressionou-me muito. Eu ainda não tinha idade para ser chamado para o cumprimento do serviço militar obrigatório, mas estava quase. Naquele tempo, o Diário de Lisboa era sem dúvida o melhor jornal diário português, apesar da censura e da péssima qualidade da sua edição, feita com caracteres de chumbo, alinhados penosamente letra a letra pelos tipógrafos, e impressa com uma tinta que nos borrava as mãos todas. 

Dizes tu, Luis, que o Diário de Lisboa era "do reviralho". Se havia algum jornal que fosse do reviralho, esse jornal era o República, muito mais do que o Diário de Lisboa. Em 1969, o Diário de Lisboa era um jornal aberto e plural, que tinha colaboradores de grande nível, como Eduardo Lourenço (que enviava crónicas a partir de França), e que publicava traduções de reportagens saídas nos jornais Le Monde e Washington Post. 

Além do República e do Diário de Lisboa, havia mais jornais diários que se assumiam como republicanos e defensores de um regime democrático. Exemplos: O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, O Século, A Capital, Diário de Coimbra e até A Província de Angola, de Luanda.

A chamada "Primavera Marcelista" é um mito. O Marcelo Caetano apenas abria uma fresta , para fechá-la logo a seguir. Não houve "primavera" nenhuma. 

Eu mesmo, que estava em Coimbra, vivi por dentro (mais "por dentro" do que imaginas) a chamada Crise Académica de 1969, que deve ter sido uma das maiores ondas de repressão de toda a história do Estado Novo. A cidade de Coimbra ficou em estado de sítio, ocupada e controlada por centenas de militares da GNR, com as suas armas, os seus cavalos, os seus jipes, o seu arame farpado, as suas botifarras e os seus capacetes iguais aos do Exército. Até a Polícia Judiciária foi mobilizada para Coimbra, para ajudar a PIDE a fazer o seu "trabalhinho". 

Mas que raio de "primavera"!!! (**)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025 às 21:38:00 WET 

________________

Notas do editor:

(*) Vd,. poste de 6 de fevereiro de 2025  > Guiné 61/74 - P26467: Efemérides (450): 6 de fevereiro de 1969, o desastre do Cheche: quando os relatos de futebol eram dados em direto, e efusivamente, e a guerra em diferido, resumida a telegráficas notas oficiosas

(**) Último poste da série > 25 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26422: S(C)em Comentários (57): os fulas e o gado bovino como extensão da própria família e da comunidade (Cherno Baldé, Bissau)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26328: A Nossa Poemateca (3): Adeus, irmão branco!, de Geraldo Bessa Victor (Luanda, 1917 - Lisboa, 1985) (escolha de Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74)


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e 
Ponte do Zádi, Angola, 1972/74); membro da Tabanca Grande  desde 11 de novembro de 2018,  com o nº 780, tem 33 referências no nosso blogue.  Escreveu sobre o nosso blogue

 "O teu blog é um monumento. É de certeza absoluta o maior acervo que existe, na Internet e fora dela, sobre a guerra na Guiné. Está lá tudo, ou pelo menos assim parece. Não existe, para a guerra em Angola e em Moçambique nada que se lhe compare. Absolutamente nada. Zero vírgula zero zero zero. Neste aspeto, os antigos combatentes em Angola e Moçambique têm que se contentar com a pobreza franciscana dos grupos no Facebook, dos quais nem sequer sou membro (...) Tu e os camaradas que te acompanham nessa tarefa merecem, no mínimo, um reconhecimento público". (...)

Engenheiro, natural do Porto,  o Fernando Ribeiro é o administror do blogue "A Matéria do Tempo", que mantém ativo desde janeiro de 2006 até hoje. Um caso notável de longevidade. 


1. A escolha é do Fernando de Sousa Ribeiro (ou Fernando Ribeiro), nosso grão-tabanqueiro, que fez a guerra em Angola mas se intressa também pela da Guiné. É um homem de um cultura invulgar, e sem ofensa um grande "africanista". Sobre este poeta de origem angolana, mal conhecido e talvez pior amado em Angola, veja-se aqui o que o Fernando escreveu no seu blogue.



ADEUS, IRMÃO BRANCO!

por Geraldo Bessa Victor (1917-1985)


ADEUS, meu irmão branco, boa viagem!

Chegou a hora de você voltar
para a Europa, a sua terra.
Quando você chegar, há-de falar
dos encantos que encerra
esta África Negra, tão distante,
tão distante, irmão branco...
Pois eu quero, neste instante
da partida, pedir-lhe uma promessa:
- Não se esqueça da alma do negro,
não se esqueça!

Você há-de falar das terras africanas,
da mata e da cubata,
dos montes e das chanas;
mas não se esqueça da alma.
Você há-de falar do sol fogoso,
das caçadas e queimadas,
das noites que viveu em batucadas
no mais feiticeiro gozo;
mas não se esqueça da alma.

Vai falar do café, do algodão, do sisal,
da fruta tropical, enfim, de toda a flora;
mas não se esqueça da alma.
Você há-de falar dos negros no seu mato,
da negra tentadora
de corpo sensual,
mostrando até retrato;
mas não se esqueça da alma.

Adeus, meu irmão branco! Lá na Europa,
quando falar da tropical paisagem,
não se esqueça da alma do negro.

Adeus, meu irmão branco, boa viagem!


Geraldo Bessa Victor (1917-1985), poeta de Angola

"Obra Poética", Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2001
https://loja.incm.pt/en/products/livros-obra-poetica-no-20-1001652

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Nota do editor:

Postes anteriores da série:

29 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26323: A Nossa Poemateca (2): "Lágrima de preta" (1961), de António Gedeão / Rómulo de Carvalho (1906-1997) (escolha de Beja Santos, nosso crítico literário)

27 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26318: A Nossa Poemateca (1): "Ladainha dos Póstumos Natais" (1971), de David Mourão Ferreira (1927-1996) (escolha de Valdemar Queiroz, minhoto de criação, alfacinha por adoção)

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25532: S(C)em Comentários (37): no séc XVI, a língua portuguesa tornou-se a língua-franca de quase todo o Oceano Índico...Para o bem e para o mal, os portugueses fazem parte da própria história de muitos daqueles povos (Fernando de Sousa Ribeiro)



Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf,
CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e 
Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
membro da Tabanca Grande 
desde 11 de novembro de 2018, 
com o nº 780


1. Comentário de Fernando de Sousa Ribeiro  ao poste P25426 (*):


Com a chegada dos portugueses, não foi só o tétum que passou a ter novas palavras. Praticamente todas as línguas do sul e sudeste asiático tiveram essas novas palavras: tailandês, cingalês, vietnamita, malaio, indonésio, japonês, etc. etc. 

Isto é assim porque, no séc XVI, a língua portuguesa tornou-se a língua-franca de quase todo o Oceano Índico. Era a língua que permitia que pessoas falando diferentes idiomas se entendessem entre si nas trocas comerciais ao longo da África Oriental, Arábia, Índia, Birmânia, Malásia, Japão e por aí adiante. 

Desde então, praticamente todos os habitantes do sul e sudeste da Ásia passaram a incorporar palavras portuguesas nas suas línguas, que adaptaram à sua própria pronúncia. Cinco séculos depois, ainda as utilizam: "escola", "sapato", "bandeira", "copo", "mesa", etc. etc.

O tétum oficial de Timor Leste é, de facto, considerado um idioma crioulo. Foi em cima do tétum original, que já ninguém fala, que se desenvolveu o tétum simplificado de hoje. Este é por vezes chamado tétum-praça ou tétum-Díli, certamente porque era uma variante do tétum nascida na praça do mercado de Díli. Veja-se, por exemplo o que diz a este respeito a Wikipedia.

Em português
 
Em mirandês

Nestas coisas linguísticas, uma das referências mais credíveis costuma ser o Ethnologue.

Timor Leste:
 
Guiné-Bissau:
 
Qualquer criança em idade escolar de um qualquer país da Ásia sabe localizar Portugal no mapa. Pode não saber localizar a Suécia ou a Bulgária, mas Portugal sabe. 

Para o bem e para o mal, os portugueses fazem parte da sua própria história. 

O Japão, por exemplo, nunca mais foi o mesmo depois da chegada dos portugueses com as suas armas de fogo; esta chegada marcou o fim do feudalismo no Japão. 

No Sri Lanka, milhões(!) de pessoas possuem apelidos portugueses, como Silva ou Pereira.

 A língua vietnamita é escrita em carateres latinos, por influência dos jesuítas portugueses. 

Nós podemos não saber nada sobre todos estes povos e nações, mas eles sabem sobre nós. Os portugueses não são para eles uns ilustres desconhecidos, seja no Camboja, seja em Taiwan (a que os portugueses chamaram Formosa), seja na Indonésia, seja onde for. (**)


Japão > Museu da cidade de Kobe > Biombo namban (séc. XVI/XVII) > Representação de um caraca portuguesa. A famosa "nau do trato" (os japoneses chamava-lhe  Kurofune, navio negro). 

Imagem do domínio público. (A carraca um tipo de navio utilizado no transporte de mercadorias, concebido pelos portugueses especificamente para as viagens oceânicas. Tinha   velas redondas e borda alta, e possuíam três mastros. Os da carreira da Índia tinham capacidade até  2 mil  toneladas.

Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia...) 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25426: Timor-Leste, passado e presente (2): Exorcizando fantasmas da história: reparações... ou reconciliações ?... Apostemos, isso, sim, no ensino e promoção do tétum e do português

(**) Último poste da série >  9 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25499: S(C)em Comentários (36): Os 50 anos do 25 de Abril foram bem celebrados neste canto do mundo, Timor-Leste , onde quase ninguém fala o português, mas que tem um grande carinho e afeição com os portugueses, com Portugal (Rui Chamuco)

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24827: Manuscrito(s) (Luís Graça) (240): Zé do Telhado (Penafiel, 1816 - Angola, Malanje, 1875): um caso de "banditismo social"? Entre o mito e a realidade - Parte VII

 

Fotograma nº 1 > "De herói a vilão", eis a história do Zé do Telhado, aqui, sargento patuleia, recebendo  a mais alta condecoração do país, a Torre e Espada, das mãos do general Sá da Bandeira, a quem salvou a vida, em combate, na Guerra da Patuleia (out 1846 / jun 1847), que se seguiu à Revolta da Maria da Fonte.

Fotograma nº 2 >  O fantasioso (no filme) assalto à Casa do Carrapatelo, Marco de Canaveses, sita nas faldas da serrra de Montedeiras e na margem direita do rio Douro, a escassos quilómetros na nossa casa em Candoz.


Fotograma nº 3 >    Um destacamento dos Granadeiros da Rainha, em perseguição, mal sucedida,  do Zé do Telhado e do seu bando, em 1852

Fotograna nº 4 >  Um filme "romântico" mas também um "western à portuguesa" onde há de tudo:  amor, perdição, ciúme, traição, nobreza, camaradagem, ação, coragem, assaltos, tiroteiro, loucas correrias a cavalo, duelo,  morte... Foi uma época, a da consolidação da monarquia constitucional, nas décadas de 20, 30, 40 e 50 do séc. XIX, violenta, pautada por sucessivos episódios de guerra civil (as chamadas "lutas liberais": dos liberais contra os absolutistas, dos liberais entre si)... Calcula-se que mais de 20 mil portugueses tenham morrido às mãos de portugueses... Estamos muito longe, portanto, do país de "brandos costumes" dos nossos contos de fadas e príncipes encantados...


Fotograma nº 5 > O "duelo de morte" com o José Pequeno, o "vilão da história", que traiu o bando, e aquem,  diz o Camilo, o Zé do Telhado,  cortou a língua com uma tesoura depois de morto. 

Mas o "ajuste de contas final" entre os dois teria sido na Lixa, e não na serra, como  vemos no filme de 1945 que, de resto, é considerado um "remake" do filme mudo, de 1929, realizado por Rino Lupo, com exteriores filmados no Solar de Beirós, São Pedro do Sul; o guião, por sua vez, tem como fonte  o livro de Eduardo Noronha (1859-1948), "José do Telhado: Romance Baseado sobre Factos Históricos" (1923)(As cenas do exterior deste primeiro filme, o de 1929, foram rodadas em diversos sítios por onde andou o "nosso herói": Amarante, Vila Meã, Lixa, Marco de Canaveses, Felgueiras, Serra do Marão, Sobreira em Caíde de Rei, Lousada, e na casa onde nasceu José do Telhado, em Recesinhos, no lugar do Telhado, Penafiel. Fonte:  Penafiel, Terra Nossa).

Fotogramas do filme "José do Telhado" (1945).  disponível no You Tube, na conta "MusaLusa". 

Uma das raras fotos da época (pormenor) do Zé do Telhado, de seu nome de batismo José Teixeira da Silva (c. 1816-1875), aqui com o seu irmão Joaquim Telhado, também ele bandoleiro, à sua direita. 

Fonte:   Manuel Vieira de Aguiar, "Descrição Histórica, Corográfica e Folclórica de Marco de Canaveses" (Porto: Esc Tip Oficina de S. José. 1947, 439 pp).   , 1947,  pág. 273. (Foto extraída do livro de Sousa Costa, " Grandes dramas judiciários: tribunais portuguees", Porto, O Primeiro de Janeiro, 1944)



Contracapa do livro de Camilo Castelo Branco, “Memórias do Cárcere”, II  Vol,  8ª ed. Lisboa, Parceria A. M. Pereira, Lda, 1966, (1ª ed., Porto, 1862) (Coleçáo "Obras de Camilo Castelo Branco,  Edição Popular, 54")


1. Comentários de alguns dos nossos leitores sobre estes escritos do editor Luís Graça com referência ao Zé do Telhado, cujo "fantasma" ainda paira pelos vales do Sousa e do Támega e pelas serras à volta (Montemuro, Marão, Montedeiras...) (*)


(i) Francisco Baptista:

Amigo Luís Graça, já poucos escrevem, poucos comentam. Estamos todos a ficar com as pilhas gastas. Tu és dos poucos que continuas a dar grandes provas de vitalidade.

Gostei de saber por ti do Zé Telhado, de quem pouco sabia, como a maioria dos portugueses, sabem o nome e a fama de bandoleiro, que roubava aos ricos e dava aos pobres. Nem sabia que sobre ele já tantos escritores tinham escrito.

É natural que ele também te motivasse a ti pois além do mais era de perto de Candoz a outra terra que tu amas mais. Gostei de ler e espero por mais capitulos. Estou a pensar comprar também " As Memórias do Cárcere", de Camilo.

Obrigado. Grande abraço

22 de outubro de 2023 às 19:15 


(ii) Fernando de Sousa Ribeiro:

Estou um pouco como o camarada Francisco Baptista. No Porto, o Zé do Telhado é uma referência vaga, de uma espécie de Robin dos Bosques à portuguesa, que passou pela Cadeia da Relação da cidade antes de ser deportado para Angola. Só se fala nele quando se visita a cadeia (atual Centro Português de Fotografia) e se espreita a cela onde Camilo Castelo Branco viu o Rio Douro aos quadradinhos. Nessa ocasião fala-se de Ana Plácido, como não podia deixar de ser, e por arrastamento fala-se do Zé do Telhado também.

O encontro entre Camilo Castelo Branco e o Zé do Telhado na cadeia não terá sido o primeiro que eles tiveram. Muito tempo antes, o próprio Camilo foi assaltado pelo Zé do Telhado, numa ocasião em que viajava de diligência entre Vila Real e o Porto! O próprio Camilo fala no assalto num dos seus incontáveis livros (não me recordo de qual) e chama patife, facínora, ou outros nomes equivalentes, ao seu assaltante. Mal sabia ele que iria encontrar-se de novo com o antigo salteador na cadeia e que iria refazer a imagem que tinha feito dele.

Durante a minha comissão militar em Angola nunca ouvi falar do Zé do Telhado, nem uma só vez. Inclusivamente, no meu grupo de combate havia dois militares negros naturais de Malanje e nunca os ouvi fazer qualquer referência a ele. Já os brancos de Angola admiravam outras personagens, que não o Zé do Telhado; admiravam Paulo Dias de Novais, Salvador Correia de Sá, Silva Porto, Norton de Matos, etc.

23 de outubro de 2023 às 02:02

(iii) José Teixeira;

O Zé do Telhado tinha bem demarcada a sua zona de atuação. Do Marco de Canavezes a Vila Real até Cete, Paredes, sobretudo na orla da estrada real. A conhecida estrada Porto a Vila Real com uma variante para a Régua. Era a estrada por onde passavam os grandes comerciantes do Vinho Fino, vulgo, Vinho do Porto. 

A minha avó falava muito do Zé do Telhado, dado que o meu visavô foi contemporâneo dele. O Lugar da Árvore em Caíde, um entroncamento de estradas,  era um dos sítios onde ela costumava fazer as emboscadas. Recordo-me de em criança passar por lá várias vezes a caminho de Vila Meã. Havia sempre uma história contada pela minha avó sobre o meliante. A admiração que os mais velhos tinham pelo Zé do Telhado ia assim passando para os mais novos. Para a minha avó o Sr. José do Telhado tinha sido um grande homem. Ele roubava aos ricos para dar aos pobres e havia sempre mais uma história para contar.

20 de setembro de 2023 às 22:42 

(iv) Valdemar Queiroz:

Quanto ao apelido/alcunha "do Telhado", há três versões.

A mais conhecida é a de ser um salteador que entrava pelo telhado, outra que a casa do pai era a única com telhado de telhas em vez de colmo como as outras e a que parece mais lógica era de ser natural do aldeia/lugar de Telhado e assim ser conhecido quando foi viver para os lados de Lousada.

Antes de ser assaltante era castrador de animais e já lhe chamavam o Zé do Telhado.

No filme "Zé do Telhado", com Vergílio Teixeira, há uma cena em que ele, numa taberna, aperta a mão a outro bandidolas provocando-lhe dores.

Foi uma grande treta, o outro bandidolas era Juvenal Araújo que eu conheci, já dentro dos cinquenta anos, mas quando fez o filme era um matulão que ganhava apostas por rasgar uma lista telefónica fechada, o que deixaria o Vergílio Teixeira com as falanginhas e falangetas partidas.

15 de setembro de 2023 às 14:49

(v) Luís Graça:

O mito do país dos brandos costumes é uma invenção do salazarismo: "antes de nós o dilúvio, depois de nós o caos"... Não é por acaso que o séc. XIX era pura e simplesmente ignorado na escola (e na universidade, pouco ou nada investigado pelos historiadores)...

O que é que a gente sabia sobre o século em que a liberdade e a justiça passaram a ser também uma bandeira, pela qual muitos portugueses se bateram e morreram?!... Afinal, o século em que passámos a ter uma constituição, se consolidou a monarquia constitutucional, se derem passos importantes no processo de "modernização", se aboliu a escravatura e a pena de morte...

13 de outubro de 2023 às 12:37

Em 1945 fizeram um "western" à portuguesa em que o nosso Zé do Telhado (interpretado pelo galã Virgílio Teixeira) é um perfeito oficial e cavalheiro. (Só dei uma rápida vista de olhos ao filme disponivel no You Tube, parte dos exteriores terão sido rodados na nossa serra de Montedeiras.)

O filme está disponível aqui, na conta : https://www.youtube.com/watch?v=i_6MmOOrDh4

O cinema também serve para falsificar ou reinventar  ou reescrever a história... (O filme de 1945 não pretende ser  "uma biografia, mas  uma obra livremente inspirada na vida do célebre salteador"...)




Cartaz do filme "José do Telhado" (1945), a preto e branco, 98 minutos: produzido e realizado por Armando de Mirando, e contracebado por Virgílio Teixeira e Adelina Campos, nos dois principais papéis. Os exteriores foram filmados em Vouzela, em 1945. O filme foi estreado no Porto (Coliseu, em 15/12/1945), e emLisboa (Polteama, 16/1/1946). Fonte: Cinept / UBI (com a devida vénia...)



2. Vamos reproduzir mais alguns excertos das "Memórias do Cárcere" (1ª edição, 1862), em que o Camilo Castelo Branco traça um retrato-robô, lisonjeiro, quase hagiográfico, sobre o seu  companheiro de infortúnio (mas também precioso "guarda-costas" ...), nos calabouços do Tribunal da Relação do Porto, retrato esse que de algum modo ficou, acriticamemte, para a posteridade, criando-se assim o mito do "Robin dos Bosques português"... Afinal, também temos direito a ter um... A tradição popular, outros escritores, menores,  o cinema e a televisão (veja-se a série da RTP, "João Semana")  têm contribuido para reforçar o mito do "banditismo social"..  (Convém lembrar que Camilo não era historiógrafo, era um ficcionista, um "folhetinista", que escrevia muito, em pouco tempo, e em função do seu "nicho de mercado", que era uma clientela urbana ou urbanizada, letrada, que lia jornais,  "folhetins" e alguns livros,  com poder de compra, em suma, a pequena e a média burguesia liberal socialmente em ascensão.)

Os excertos aqui reproduzidos são os da 8ª edição (Camilo Castelo Branco, “Memórias do Cárcere”, II  Vol,  8ª ed. Lisboa, Parceria A. M. Pereira, Lda, 1966)

(...) “Este nosso Portugal é um país em que nem pode ser-se salteador de fama, de estrondo, de feroz sublimidade! Tudo aqui é pequeno: nem os ladrões chegam à craveira dos ladrões dos outros países! Todas as vocações morrem de garrote, quando as manifestam e apontam a extraordinários destinos (...) (pág. 83)

(…) "Na noite de 22 de Maio [de 1852] (**) deu José do Telhado batalha campal à tropa no local denominado Eira dos Mouros [freguesia de Santa Cristina de Figueiró, concelho de Amarante, distrito do Porto] (**)

O destacamento de infantaria 2  (***) conseguira capturar dois salteadores e descera com eles a uma estalagem,  para descansar. Aí o surpreendeu a horda com o chefe montado em fogosa égua. Chegou ele ao terreiro da estalagem, e exclamou: "Carregai com quartosn (****),  rapazes, que está aqui José do Telhado." 

Saiu fora a tropa, e empenhou-se um tiroteio,  que rematou pela retirada do destacamento. O chefes sustentou sempre a vanguarda da avançada, fazendo fogo de pistola e clavina. 

Estavam os dois saltadores prisioneiros na cavalariça da estalagem: um fugira logo que rompeu o fogo, o outro ficara na impossibilidade de erguer-se sobre as pernas cortadas de balas.

− Vem!   − disse o capitão ao salteador ferido.

− Não posso; matem-me que eu estou sem pernas.

− Faz o ato de contrição  − retrucou o chefe.

 O ferido resmuneou o acto de contrição ,  e a estalajadeira verteu lágrimas piedosas. 

José dos do Telhado  estirou-a com uma bofetada, e  desfechou contra o peito do camarada, dizendo;

− Acabaram-se-te os teus trabalhos,  e os meus  estão em  começo. Adeus!    

O cadáver não podia responder a este saudoso vale do seu chefe. (pp. 95/96)


(…) Noutra noite, cercou-lhe a  tropa a casa, estando ele no primeiro sono. Despertou-o  a mulher, e ajudou-o a vestir muito de seu vagar. Caminhou para uma porta transversal, e retrocedeu a ir buscar o  relógio esquecido, e a dar ordens ao criado para lhe conduzir de madrugada o cavalo a designado sítio. Abriu uma janela,  e disse para os soldados:

− Que tal está a noite, rapazes ? 

Retirou da janela, e  abriu a pequena porta, que defrontava com uma cortinha para a qual relevava saltar por cima de um quinchoso.  Aí estavam postados três soldados. José Teixeira aperrou a clavina  de  dois canos, e disse: 

− Agachem-se, que quero saltar.  Os dois primeiros que se moverem, passo por cima deles mortos. 

Os soldados agacharam se, e ele saltou.  Já de dentro da cortinha, atirou dois pintos (*****) aos soldados, e e disse-lhes:

−  Tomai lá para matar o bicho à saúde do José do Telhado.

E foi seu caminho pacífica e detidamente como se andasse espreitando a toupeira no seu meloal.  Teria ele tempo de palmilhar um oitavo de légua, quando lhe deram uma descarga. (...) (pág. 97)

(...)  José Teixeira folgava de entremeter incidentes cómicos nas suas assaltadas. A uma dama de Carrapatelo dera ele um beijo de despedida, e à mulher do senhor Camelo perguntara de que lhe servia o dinheiro, se não podia comprar uma cara mais nova e menos feia

O senhor Bernardo José Machado, muito conhecido comerciante  do Porto, ia um dia para Cerva [Ribeira de Pena, no Alto Tâmega] , sua terra natal , e alcançara,  a distância curta do Torrão, um cavaleiro bem posto no seu corpulento cavalo, e acamardou-se com ele na jornada. Falavam vários assuntos, e caiu a propósito os perigos de jornadear por tais sítios infestados pelo terrível  Zé do Telhado. 

O cavaleiro mostrou-se também horrorizado pela hipótese de o encontrarem,  e ouviu da bocado  senhor Machado a história dos flagicídios do célebre bandoleiro.  Apearam  numa estalagem, e jantaram o mais lautamente que podia ser.  O cavaleiro mudara de estrada.  e despediu-se do senhor Machado, que lhe ofereceu os seus préstimos. Pediu o comerciante a conta à estalajadeira,  e soube que o outro sujeito pagara a despesa. Perguntou o viajante, quem era aquele cavalheiro, e a mulher respondeu que era o José do Telhado. 

É bem de ver que o senhor Machado, em vista do panegírico com que o brindara,  não foi muito a seguro de o topar adiante com outra cara, ocasionando lhe um facto novo para realçar a história. (...) (pág. 99),


(...) O libelo cerra a meda dos crimes do José do Telhado om a tentativa de evasão para reino estrangeiro sem passaporte. 

A morte de José, denominado o pequeno, por antifrase, não vem incluída na acusação.

José Pequeno era agigantadado de estatura, e  o mais cruel da malta, comandada por José do Telhado.

Custava muito ao chefe refrear-lhe o instinto sanguinário; mas com melindre o fazia,  porque o parceiro era o único de quem  ele se receava em luta de braço a braço.

Andava José Pequeno cogitando no expediente mais azado a livrar-se de perseguições,  e tentou-o o demónio a atraiçoar os companheiros. Foi a malta surpreendida, estando  ausente o denunciante. Comandava a força o destemido Adriano José de Carvalho e Melo, Administrador do Marco de Canaveses. 

Carregou tão brava a polícia sobre a chusma dos ladrões,  que lhes foi remédio a fuga. Aí recebei José Teixeira uma bala nas costas a qual, segundo ele diz, o fizera saltar dez passos avante contra sua vontade. A bala  produziu-lhe  na coluna vertebral um choque elétrico meramente. 

Ao outro dia, José Teixeira teve de evidência que seu companheiro o denunciara.  Ao anoitecer foi à Lixa [concelho de Felgueiras]  onde pernoitava o traidor, entrou-lhe em casa,  e disse-lhe:

− Não te quero matar â traição; previne-te  como quiseres, que um nós há de morrer aqui.

− Ou ambos!  − disse o José Pequeno, lançando mão da faca.

−  Ou isso ! −  redarguiu o José do Telhado,  sacando de uma tesoura. E acrescentou:

−  Hei de  cortar-te com ela a língua. 

A primeira arremetida que se fizeram, apagaram a luz da vela,  e arcaram peito a peito. Revolveram-se na escuridade um quarto de hora, rugindo alternadamente injúrias e pragas ferozes. 

José Teixeira já tinha um braço rasgado; mas José Pequeno expedira o último rugido pela fenda que a tesoura lhe abria na garganta. O chefe ergueu o joelho sobre o peito do cadáver, quando  os dois gumes da tesoura se encontraram ao través da língua que o denunciara. 

O homicida aparecer na Lixa ao outro, e disse a multidão parada à porta do morto:

− Se não sabem quem matou este traidor, aqui o têm.

 E passou adiante. obrigando o cavalo a garbosa upas. 

Coisa é digna de reparo, que o ministério público não desse querela contra o assassino. Bem pensada a irregularidade, dá de si que a moral pública, representada pela polícia criminal e administrativa, propôs um voto de gratidão ao matador do formidável celerado da Lixa. (...) (pp. 100-102)

In: Camilo Castelo Branco, “Memórias do Cárcere”, II  Vol,  8ª ed. Lisboa, Parceria A. M. Pereira, Lda, 1966, (1ª ed., Porto, 1862) (Coleçáo "Obras de Camilo Castelo Branco,  Edição Popular, 54")~

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / parênteses retos: LG)

Este obra está disponível em formato pdf, no sítio da Imprensa Nacional- Casa da Moeda, Lisboa, 2020, 232 pp, edição de Ivo Castro e Raquel Oliveira,  distribuição gratuita. (Segue a 2ª edição, revista pelo autor, Porto, 1864.)

https://imprensanacional.pt/wp-content/uploads/2022/03/Memorias-do-Carcere.pdf?btn=red

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(**) Vd. José Manuel de Castro - José do Telhado- Vida e aventura, a realidade. a tradição popular. Ed. autor, 1980, 193 pp., il. (Tipografia Guerra, Viseu).

(***) Vd. Wikipedia: Na época(1852) era conhecido por Regimento de Granadeiros da Rainha, unidade de elite criada em 1842, responsável pela guarda pessoal da Rainha D. Maria II; em 1855, o regimento adopta a actual designação de RI2 - Regimento de Infantaria 2, com sede em Lisboa. Quando Camilo escreveu as "Memórias do Cárcere" já era RI 2,

(****) O "quarto" era um equena bala de chumbo, de forma angular.

(*******) Na época o "pinto" valia cerca de 480 réis. Também era conhecido como "cruzado novo".

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24361: FAP (126): A que altura (quantos pés) voava a DO-27 quando fazia de PCV (Posto de Comando Volante)? (Fernando de Sousa Ribeiro)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério... Uma DO-27 na pista... 

Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes militares, bem como dos civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os infantes, um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato...  Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a Maria Turra... "Cabr..., filhos da p..., vão lá gozar pró c..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos corn...".

Também os nossos comandantes operacionais (capitães QP ou milicianos) não gostavam nada do "abelhudo" do PCV, em operações no mato...

Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

.

Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, 
CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
 membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780


1. O nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro levantou uma questão que não é de lana caprina (*):

O que é de cabo-de-esquadra é o PCV, que eu tive que ir verificar do que se tratava, porque em Angola não havia disso.

É o cúmulo "comandar" uma operação a partir de um avião! Mas que diabo de ideia! Toda a gente que estivesse num raio de muitos quilómetros ficava a saber onde é que a tropa andava, o que destruía por completo uma das regras básicas da guerra de guerrilha, que é o fator surpresa. 

Os "brilhantes" cérebros militares não sabiam disso? Está visto que a guerra na Guiné era uma guerra rica, pois até majores e tenentes-coronéis passeavam-se em aviões, enquanto a carne-para-canhão morria ou ficava estropiada cá em baixo por culpa deles.

Para abater um DO-27 não eram precisos "strelas". Uns tiros de AK-47 bem apontados ao depósito de combustível ou à hélice do avião deitá-lo-iam abaixo, a menos que este voasse a mais de 300 ou 400 metros de altura, fora do alcance das espingardas, ou então que voasse muito baixinho, a roçar as copas das árvores. 

Portanto, aqui deixo a minha dúvida: a que altura é que os PCV costumavam voar?

2 de junho de 2023 às 02:04  (*)


2. Comentário do nosso editor LG:

Boa questão, Fernando... O "hino da CCAÇ 12", da época de 1971/72, que iremos publicar à parte, é uma paródia da cantiga do "tiro-liro-liro", mais uma bela peça do nosso humor de caserna  lá em cima o senhor major, no PCV ("posto de comando volante") e cá em baixo a "tropa-macaca"... 

Lá em cima anda o Heli-Canhão
Cá em baixo anda a 12 e anda o Xime. (...)

Juntaram-se os três numa operação
Lá para os lados do Poidão
Correu tudo que nem um mimo! (...)

Major... ó meu Major
Ora diga lá agora o que é que quer. (...)

Ora essa continuem cinco minutos,
não precisam que vos peça.
Continuem... ora essa! (...)

Comandante... ó meu Comandante
Estamos fritos, estamos agora a embrulhar! (...)

Tenham calma... tenham calma e não pensem
que eu daqui não vos estou a ajudar. (...)

Contra os canhões sem recuo...
VAI TU!

No sector L-1 o comando dos batalhões usavam e abusavam do PCV... "Para mostrar serviço" aos senhores de Bissau... Nunca dei conta que tenham sido úteis, bem pelo contrário..

Os pilotos de DO-27 podem dizer-nos a quantos pés costumavam voar em operações como PCV ? Vamos lá perguntar aos camaradas da  FAP. (**)
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Notas do editor: